Jovem sorridente segurando um mapa em meio a uma floresta, pronto para explorar.

As pessoas mudam?

Muitas vezes me perguntam “as pessoas mudam?” em um certo tom que, sutilmente, já indica que a resposta deveria ser “não”. Infelizmente, não é raro eu me deparar com pessoas que subestimam a capacidade de transformação humana argumentando de forma taxativa, carregada de descrença e até mesmo um certo desdém. Isso é uma pena. Será que elas esquecem que toda a revolucionária teoria da evolução está baseada na variabilidade das espécies? Darwin também lamentaria, aposto.

Vou mais longe nesse argumento. Em nós, humanos, a variabilidade, ou seja, a riqueza da espécie não se restringe a elementos genéticos. Ela inclui a maneira como atribuímos sentido às nossas experiências, como fazemos nossas escolhas e como decidimos viver nossas vidas. Mudar é trabalhoso e pode parecer desanimador. Nessas horas sempre me lembro de uma frase de Dom Bosco que aprendi quando trabalhei com os Salesianos: “eu não disse que seria fácil; disse que valeria a pena”. Ainda que desafiadora, a jornada rumo a nós mesmos pode trazer benefícios e romper padrões antigos. Cada pequeno avanço representa uma vitória pessoal.

 

Acompanhe nosso conteúdo também no Linkedin

 

A vida é repleta de acontecimentos que podem desencadear grandes mudanças, muitas vezes aleatórias. Então, lembre-se de que elas não têm significados por si mesmas. Para que possam ser efetivas, é essencial termos clareza dos nossos propósitos, caso contrário elas podem tornar-se vazias e improdutivas. Quando vivemos com propósito, nossas ações pautam-se em valores e alinham-se com objetivos, transformando desafios em oportunidades para nosso desenvolvimento. Ou seja, autoconhecimento é essencial para realização pessoal e bem-estar.

Homem sorridente vestido com trajes históricos segurando um crânio em suas mãos, em ambiente iluminado por velas.

Foco Brasil – As pessoas mudam? -Por que somos como somos?

Por que somos como somos?

Essa é, certamente, uma das questões mais complexas de toda a Psicologia. Em sua Abordagem Centrada na Pessoa, Carl Rogers descreveu uma força intrínseca presente em todos os seres vivos que os impulsiona a crescer, desenvolver-se e alcançar seu pleno potencial. Em nós, humanos, a expressão dessa “tendência atualizante” é nutrida por meio de relações facilitadoras genuínas, carregadas de aceitação e empatia. De acordo com a Psicologia Humanista de Rogers e outros autores, carregamos um impulso inato rumo ao crescimento, assim como a semente de uma árvore.

Os psicólogos comportamentais, por sua vez, enfatizam o papel da aprendizagem como algo essencial para entender a personalidade, pois nossos comportamentos são modelados na interação com o ambiente. A personalidade, então, é analisada a partir de um complexo histórico de reforços, punições e observação social. Pode-se dizer que mudar implica desaprender o que é inadequado ou disfuncional, experimentar novas formas de reagir às situações da vida e aprender novos e melhores repertórios.

Você também pode gostar: Como anda a relação entre você, a crítica e o Crítico?

Na Abordagem Experiencial de Eugene Gendlin, a maneira como uma pessoa encara os fatos de sua vida tem mais relevância do que os fatos em si. Nesse sentido, a transformação pessoal é mais provável quando há maior flexibilidade e abertura à experiência do que no caso de quem tem uma visão de mundo predominantemente rígida e impessoal. Gendlin desenvolveu um método que chamou de Focalização para ajudar as pessoas com maior dificuldade de entrar em contato consigo próprias a superarem seus bloqueios, encontrando recursos essenciais para o crescimento.

Uma personagem animada ruiva aparece na TV, vestindo a camisa número 79 em um jogo de futebol feminino, com o estádio ao fundo, enquanto a TV está em uma sala decorada com plantas e cadeiras.

Foco Brasil – As pessoas mudam? – Processo ou alívio imediato?

Processo ou alívio imediato?

Mudar implica tempo e dedicação; é um processo. É bem diferente de assistir ao resumo dos melhores momentos de uma partida ou aos gols da rodada, quando vemos jogadas espetaculares resumidas em poucos minutos. A transformação pessoal não ocorre assim. Ela envolve uma jornada contínua de empenho, superação de dificuldades e adaptação. As pequenas vitórias diárias, muitas vezes imperceptíveis, somam-se ao longo do tempo para criar mudanças significativas e duradouras, exigindo resiliência e dedicação constante.
A cultura do imediatismo na qual estamos mergulhados pode ser um obstáculo significativo para a mudança pessoal, já que enaltece a gratificação instantânea, tornando a paciência e a perseverança menos atraentes. Essa busca por resultados rápidos causa frustração e desistências quando o progresso demora. O imediatismo também oculta o valor do aprendizado, do tempo e da disciplina.
Em qualquer processo de mudança, é natural enfrentar acertos e erros, além de avanços e retrocessos. Isso é muito fácil de se constatar quando fazemos dieta: o emagrecimento não é linear e nem se sustenta com soluções milagrosas. Ao contrário, depende de um importante reposicionamento em relação a diversos hábitos. Assim, é crucial observar a linha de tendência geral, que deve refletir um progresso constante, mesmo que lento. Essa perspectiva ajuda a manter a motivação e a confiança na capacidade de se transformar ao longo do tempo.

Foco Brasil – As pessoas mudam? – O todo é mais do que a soma das partes

O todo é mais do que a soma das partes

Há uma máxima da Psicologia da Gestalt que afirma que “o todo é mais do que a mera soma das partes”, perfeitamente aplicável às relações interpessoais. Em uma mesma lógica, as abordagens sistêmicas em Psicologia enfatizam que os comportamentos e emoções de um indivíduo são influenciados pelo sistema social em que está inserido. As conexões entre pessoas geram significados e experiências que não podem ser compreendidos isoladamente e, por essa razão, não podemos desconsiderar a importância do contexto relacional na análise e no crescimento pessoal.

Mas qual é a relevância disso? É fundamental considerar o aspecto sistêmico das relações, pois a mudança de uma pessoa afeta diretamente as demais ao seu redor. É como em um jogo de pega-varetas: o movimento de uma única peça pode impactar o arranjo do todo. Nessa analogia, por mais que tentemos mexer uma única vareta, mais cedo ou mais tarde as demais serão afetadas e isso pode gerar resistência. É como quando alguém faz terapia e os familiares começam a questionar: “mas você nunca foi assim…”. Portanto, ao buscar transformação pessoal, é essencial estar ciente das repercussões nas relações interpessoais e coletivas.

A possibilidade de mudança é intrínseca ao ser humano e se fortalece em relações saudáveis. Por outro lado, relações adoecidas (ou tóxicas, como se tem convencionado chamá-las), bloqueiam o crescimento pessoal. Cada interação tem o potencial de inspirar, motivar e facilitar transformações, ao mesmo tempo em que pode fazer justamente o oposto. Mudar é possível sim, não perca suas esperanças! Mas, para tanto, esse processo precisa ser cuidadoso, gentil e bem apoiado, pois diz respeito não somente à própria pessoa, como também a quem está próximo.

Você quer ajuda para direcionar melhor as suas mudanças? Entre em contato comigo e marque uma sessão!

Compartilhe este post:

| LinkedIn | WhatsApp |


Prof. João Carlos Messias Psicoterapeuta CRP 06/48853 Docente e pesquisador – PUC Campinas Psicologia do Trabalho e Carreira: pesquisa e intervenção profjoaomessias@gmail.com - (19) 98143-0007

    Gostou do post? Deixe um comentário aqui:

    x
    ×